quarta-feira, 18 de junho de 2008

Com domínio fechado

O que será de nossas crianças?
Engaioladas em condomínios fechados,
Brincando contentes, porém enjaulados.
Em meio a era da modernidade,
Não conhecem o lado pobre da cidade.
E desde pequenas já tem celulares,
Se divertem com máquinas em seus lares.
Colecionam amigos virtuais,
Imitam a conduta de seus pais.
Mais um dano causado pela violência,
Faz surgir um novo estereótipo de infância.
Onde a brincadeira se chama entretenimento,
E paga aos jovens monitores seu sustento.
O medo é sinônimo de incerteza,
Crianças precisam de contato com a natureza.
Precisam conhecer diferentes pessoas,
Distinguir as ruins, das boas.
Aprender uma lição para o futuro,
E quebrar o preconceito atrás do muro.

Primeiro comando

Primeiro comando,
Filho de criação,
Pequeno nefasto,
Não sabe o que tem na mão,
Malandro novato,
De telhado em telhado,
Firme no ato,
É da boa meu chegado!
Formado na boca,
Aprendeu a matar,
Não marca touca,
Se a polícia chegar,
Garante sua gente,
Com comida na mesa,

Bandido beneficiente,
Do crime á realeza.
Um velho nascido na favela,
Me contou o que era sorte,
Sorte é por comida na panela,
Sem ter que conviver com a morte.

Aquilo sim era infância

Em cada canto, cada casa,
Histórias e lembranças,
Daquele cheirinho de almoço,
O vai e vem das crianças,
Mais uma pipa no céu,
E as mão cheias de cerol,
Um balão feito de papel,
As roupas secando ao sol,
A calmaria de fim de tarde,
Gelinho de côco queimado,
Ary Toledo no rádio,
E eu gargalhando sentado.
Um amigo me chama pra jogar,
Pés descalços, a bola começa a rolar.
Naquele tempo era só inocência,
Caía no mundão quem queria.
Aquilo sim era infância,
Diferente de hoje em dia.
Queria ser sempre criança,
Ficar pra sempre neste lugar.
Onde a vida é colorida,
E o cheiro de arruda paira no ar.
Ouvir os gritos de minha avó,
As travessuras de meus colegas,
Uma partida de dominó,
E as guerras de mamonas.
O bairro era meu mundo,
Um terreno baldio minha floresta.
Voltava pra casa imundo,
Tudo pra mim era festa.
Dormia ali mesmo, no sofá.
Pensando no dia que passou,
Não via a hora de acordar,
Rever os amigos e marcar mais um gol.
Infelizmente tudo muda,
Tomamos rumos diferentes,
E o cheiro de arruda,
Permanece em nossas mentes.
As pipas já não tomam os céus,
Mamonas já não existem mais,
E os terrenos inundaram com as chuvas,
As casas continuam no lugar,
E meus amigos hoje são adultos.
Minha vida agora é trabalhar,
Garantir meu sustento.
Respiro fundo, está guardado,
Bem claro em meu pensamento.

Desarmado pelo acaso

Isso é um assalto,
Mãos para o alto!
Não sei se reajo,
Me sinto frágil,
E se tentarem me matar,
Jogarei com a sorte?
Quem me garante se poderei correr.
Nessa ninguém sabe o que fazer.
Por isso é bom nem pensar,
Evitar passar por um lugar.
É mais um cúmulo urbano,
Pensar que um simples ser humano,
Pode acabar com uma vida,
Por causa de uma moeda,
Por causa de um computador,
Acaba causando dor,
Em quem perdeu um ente querido,
Pai, irmão, filho ou marido,
Que só queria voltar pra casa.
Abraçar a pessoa amada,
Mas foi se encontrar com deus.
Um infeliz destino,
Tira o sonho de um menino,
E a lágrima de uma mãe triste.
Que mesmo fraca resiste,
Aonde isso vai parar?