sábado, 29 de novembro de 2008

Só mais uma (noite)


Chegou a noite,
É quase fim de semana,
E a boêmia em mim emana.
Visto uma roupa surrada,
Saio pra mais uma jornada,
Ouço gritos, punk rock,
Observo da entrada,
Pego mais uma gelada,
Pra descer a rua augusta.
Aqui vejo de tudo,
Uma versão louca do mundo,
Que me faz sentir vivo.
Num espaço alternativo,
Música boa, luz de neon,
-Quer mais um drink?
Pergunta o garçom.
Não quero mais nada,
Já tenho meu puro,
Num copo com gelo,
Que brilha no escuro.

Inconstante


Abre farol, fecha farol,
Passa carro, para carro,
O sol aparece e some entre as nuvens,
Pessoas vem e vão,
O trem para e some da estação,
Existe a boa e a má intenção,
Tudo depende da situação.
Abre porta, fecha porta,
Uma linha é certa e outra torta,
Entre o tudo e o nada,
Passam manhãs, noites e alvoradas.
Tomamos diferentes direções,
Reagimos às nossas intuições,
Como se o farol fechasse para nós.
Esperamos o verde, aceleramos,
Reclamamos quando a chuva cai,
O trem está lotado, bufamos.
Cometemos enganos,
Por não termos paciência,
Negamos a conseqüência,
Reflexo de nossos atos,
Muitas vezes impensados.




A lembrança de uma foto

Movimento estático de ondas,
Que fazem o momento parar.
A velocidade da luz é audível,
Como o ronco de um dirigível.
O flash dispara na hora,
Na bolha que some no ar,
No olho que olha sincero,
Vermelho do seu ofuscar.
Slides das fases da vida,
Das datas que quero lembrar,
Em meio à minha corrida,
Sinto a imagem falar.
- Vou voltar!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Visão do intocável



Uma folha que toca o asfalto,
O pássaro que voa alto,
Instrumento que toca os sentidos,
Que fazem do ar objeto,
Do teto que toca a pilastra,
A lente que enxerga mais perto,
O homem que olha no mapa,
A lua que cobre o planeta,
O dom que fôra herdado,
O dado que ganha a jogada,
A fada que vara suas noites,
Assoites de vida sem luz.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ritual matinal


Dia cinza, garoa leve,
Um carro vira o quarteirão.
Café com leite, pão na chapa,
O camarada me serve.
Vejo pessoas, traço históricos
Que desvendo através do olhar.
Coisas boas e ruins,
É tudo assim...
Assisto às notícias
Do dia anterior,
Cansado de terror,
E da queda do dólar.
O planeta está em crise.
O fim da novela terá reprise?
Quem ganhou o jogo de ontem?
Saberei antes que me contem.
Pego um jornal no farol,
Sobre ciência moderna,
E aprendo mais um pouco.
Sinto minha cabeça crescer,
Mas sei que irei esquecer.
São muitas informações,
Seres humanos e suas razões.
Opiniões são só opiniões.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Intervenção urbana



Intervenção urbana,
Arte do abandono.
Tomando de assalto,
Alvos esquecidos.
Tornando lixões,
Cenários de destruição,
Janelas quebradas,
Em telas de pinturas.
Muros caíram,
Comércios caíram,
Restou a arte.
Porque não fazê-lo?
Transformar o feio,
Em ilustrativo.
Espontâneo e provocativo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Um domingo de tensão





Domingo 8:30, desperto com algo incomum,
Ouço voz de pessoas e o barulho dos motores,
Policiais chegam, curiosos observam de longe.
Era uma história de amor não correspondido,
Que virou manchete de crime num jornal.
Ás 6:30, o meliante se levanta, pega sua jaqueta,
Coloca no bolso a faca com que cortava cana.
Suas olheiras indicavam uma noite mal dormida,
De alguém que estava infeliz com a vida.
7:00 pega o ônibus rumo ao seu destino final,
Bairro do Brooklin, rua Princesa Isabel,
O local: uma loja de calcinhas,
A vítima: sua amada.
Que à dois dias lhe tirou o sossêgo,
Ao dizer que arranjou um novo emprego,
E queria mudar de vida, sair da quebrada,
Viver sozinha, sem seu amado,
Que trocou o caminho certo pelo errado.
Ela queria uma vida honesta, mais cuidado.
7:30 ele desceu do ônibus, subiu a rua,
Sem olhar para os lados, empunhou a faca.
Entrou na loja, em segundos tentou argumentar,
Desesperado, começava a se exaltar,
Com os olhos vidrados, na tensão,
Abraçou sua amada, com uma faca na mão,
E mandou todos saírem.
8:30 acordei, todos já estavam lá,
Presenciei sem saber o motivo,
O porquê da confusão.
Passaram uma, duas, três horas,
E o homem ainda estava lá,
Foi quando ouvi um tiro,
E vi um corpo estirado no chão,
Fazendo daquele domingo, um dia de tensão.
Ele saiu com a moça, prometeu se entregar,
Não ouviu a bala o alvejar,
Alí mesmo caído no chão,
Conseguiu estender a mão,
Como se estivesse pedindo perdão.
E ela caiu de joelhos.
Poderia ser uma cena de filme,
Mas era cena real.
Poderia ser uma cena de amor,
Simulando que, pois mais louco que ele fôsse,
Ela ainda o tinha no coração,
Ou quem sabe o choro,
Que indicava liberdade, mesmo com a solidão.