segunda-feira, 14 de julho de 2008

Êxodo

Rumo à cidade em busca de trabalho,
Acorda cedo, faz o sinal da cruz e vai,
Seu ofício é servente de pedreiro,
Semana à semana, caso à caso,
Com os ímpios se engana e atura o descaso,
Penteia o cabelo, corta sua face,
Em meio a guetos, indústrias e sedes,
Ele renasce.
Só quer um momento ao sol,
Silêncio para sua meditação,
Levar mensagens de paz,
Ao trono da alienação.
Um dia esse homem ficou confuso,
Pois plantava e não colhia,
A cidade nada lhe oferecia.
A Jeová pediu proteção
E seguiu o velho testamento.
Deixou somente um bilhete,
Que jogou nas asas do vento:
“Esses homens desconhecem
o valor de uma amizade,
Nascem, vivem e morrem sozinhos
Por não terem humildade,
Jogam o peso de suas palavras
Para os outros magoar,
Esquecem o valor da vida
Esnobando todo dinheiro que podem gastar.
Minha fé é minha guia,
Única que não me trai,
Estou deixando a babilônia,
Indo para a terra de nosso pai.”

Observo.

Observo:
As folhas que caem ao meu lado,
Um cão sendo adestrado,
Crianças inocentes no “dia do brinquedo”,
Amigos passando recados,
O lindo amor dos velhos,
A força de vontade dos necessitados,
As coisas que sinto mais não vejo.

Observo!
E permaneço calado,
Meu cachorro vem e deita ao meu lado.

Observo,
Não julgo nem opino,
Não tento dar a solução,
Não faço com os outros
O que não quero que façam comigo.
Ás vezes minha mente parece parar,
E fico só a observar.

Revolução

Vem pra luta, bandeira na mão,
Com ou sem partido, revolução.
Quem nos escuta, FHC ou FDP?
O povo reluta para esquecer,
Do sistema que nos joga pra vala,
Do problema em casa que não sara.
Povos desiguais, miséria da nação,
Somos todos iguais, braços dados ou não.

Estafa Mental

Fatos que insistem em permanecer na mente,
São como forças que hipnotizam inconscientemente.
Pode ser o olhar da garota observada,
Como pode ser a brisa após uns goles de cevada,
Pode ser minha alma sedenta por prazer,
Ou a decepção de ver e não crer.
Ver a lágrima no rosto de uma mãe com fome,
E não crer nessa política que só dá vexame.
Não me importa se é rico ou pobre, plebeu ou nobre.
Peço mais justiça pra essa gente que sofre,
Peço que a igualdade seja re-estabelecida,
Como recompensa aos que lutam pela vida.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Sado-maloquista

Peregrino do saco grande,
Assim rasteja seu pedestal,
Acende vela, derrete cêra,
Velha praiêra, canto de sol,
Pepita pura, choro da alma,
Antro de lama, ramo de sal,
Pranto contido, pobre eremita,
Rito que indica que o mal é banal,
E se esconde na cama do fraco,
Inconscientemente sado.

Inseticídio

Sozinho e rodeado de asfalto,
Enxergo São Paulo lá do alto,
De longe parecemos formigas.
As sirenes entoam cantigas,
E lutamos para sobreviver,
Reproduzir e depois morrer.
A cidade em constante evolução,
Exige de nós constante atenção,
Para que a vida não passe em vão.
Lá embaixo um homem revira o lixo,
Pior que inseto, como um bicho.
E a madame faz cara de nojo,
Guardando a maquiagem no estojo.
Formigas operárias se ajudam,
Mesmo sem receber aumento,
Catando as folhas que caem com o vento.
Permanecendo anônimas transeuntes,
Como os que dormem debaixo das pontes,
Como os que pedem trocados nas ruas,
E os que roubam dinheiro nos caixas.
Quem disse que formigas não tem sentimentos,
Constroem seus abrigos em passos lentos,
São frágeis, mas resistem.
São muitas, mas não desistem.
Solidárias, ajudam até suas inimigas,
Quem dera fôssemos apenas formigas.