terça-feira, 2 de julho de 2013

O último reencontro



Certo de que estava errado,
Preparei o que já estava pronto.

Um doce amargo reencontro,
Que doía na alma e ardia na pele.

Um sorriso em forma de pranto,
Um olhar que dizia mil coisas.

Uma garfada indigesta na consciência,
Um passado presente naquela mesa.

Um gole sensato de loucura,
Um sopro febril de solidão,

Um outro eu em afirmação,
Com suas meias inteiras verdades.

Na incerteza do talvez,
Te digo com raiva: quero paz.

E no silencio dos pensamentos, completo:

Até nunca mais.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

De Passagem


Palavra que engasga na boca,
Tosse que estraga a piada,
Gota no vidro do busu,
Fuso que tira meu sono.

Traça que estraga sua roupa,
Cheiro que sobe e dá fome,
Vô que não lembra seu nome,
Verde que abre o farol.

Dia que morre sem sol,
Gente que morre sem vida,
Tempo que cura a ferida,
Roda que gira veloz.

Rio que termina sem foz,
Ave que voa pra longe,
Pique-pega e esconde-esconde,
Neblina.

Dose extra de cafeína,
Frio que te faz adoecer,
Freio que falha na curva,

Vou descer.



quarta-feira, 8 de maio de 2013

Caiu na Net


Nossa foto é minha,
Essa foto é vossa.

Minha foto é tua,
Linda, toda bossa.

Vossa foto é crua,
Você nua é nossa.

Você ainda é minha,
Mas a foto não.

Bosta!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Bandido de fé





Verdade no verso do velho samba
De bamba tocado na palma da mão.

Malandro malaco que sobe a ladeira,
Deixando de lado o seu lado ladrão.

Tapioca tapeia larica, o lero digestão.
Desce a gelada gesticulando gratidão.

Lembra da lombra de horas atrás.
Da fita que gente honesta não faz,

Da letra que no bolso num ta mais,
Do corpo garfado no beco do cais.

Sua frio, frita num trago de tchais,
Vê seu rosto estampado em cartaz.

No umbanda, pede ajuda aos orixás.
Continua com fé, mas sem paz.


xxx





Sensações, tentações, alucinações,
Palavras indecentes que ecoam nos porões.

Sopros de prazer, loucas relações,
Fachadas atrativas onde humanos viram cães.

Poses de poder, sujas intenções,
Paraíso enlatado para plebes e patrões.

Casos programados, breves felações,
Que alimentam vícios e aliviam tensões.

Contenha suas ereções.


Anteníase



A cidade sofre de anteníse,
Antenas por todo lugar,
Cada uma com seu destino,
Tv, rádio e celular.
A linha das pipas e os raios,
São seus inimigos naturais,
Novas, tortas ou quebradas,
De longe são todas iguais.
Tomam o céu da cidade,
Em prédios de todos tamanhos,
Enxergam de perto aviões,
E muitos seres estranhos.
Transmitem informações,
Para diversos seres humanos.

É bom parar, olhar para o alto.
Sair um pouco do asfalto.
E descansar junto as antenas.

Invejar os animais com asas.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ao acaso






Um homem e a sua cicatriz,
Marcada a ferro quente pela vida,
Uma mulher e seu amargo sorriso,
Resultado de uma relação partida.

Ele, triste por fora e feliz por dentro,
Escondido atrás da cortina do preconceito,
Ela, feliz por fora e triste por dentro,
Infeliz e arrependida após ter dito: aceito.

Duas almas tristes e sozinhas,
Que o destino fez questão de aproximar,
Num ônibus rumo ao Grajaú,
Longe das bênçãos de Iemanjá.

De lá pra cá, uma hora e meia,
Ele transforma os traumas em origami.
De cá pra lá, duas horas,
Ela prepara o cabelo e põe seu fone.

O silêncio dele diz muitas coisas,
E transparece luz num cisne de papel.
O silêncio dela muda de tom,
Ao ver naquele objeto a cor do céu.

A porta abre, a catraca gira,
Os olhares dançam,
O ônibus enche e esvazia,
Os sinais não disfarçam.


Amanhã talvez se encontrem de novo.