Contrariando o alto grau de analfabetismo
No nordeste o cordel teve seu batismo
Suas estórias nas feiras e praças
Fazem a imaginação ganhar asas
Sob a voz do cordelista
De origem humilde, realista
Mediador das classes populares
Que com sua fé derruba pilares
Com louvação e crítica
Faz da poesia sua política
Quando quem sofre resolve lutar
E no seio da vida amamentar
Do campo a cidade ganhou uma lição
De bravura e valentia como os feitos de lampião
São antropólogos e sociólogos
Que nunca sequer entraram numa faculdade
Através de repentes e monólogos
Cantam nas ruas por necessidade
As lembranças do seco sertão
Onde um dia lhe faltou o pão
E o vento lhe trouxe de lá
Pra num poço de lama anda
O povo aplaude Ceará.
O cordel assim se faz atemporal
Do maculelê pra espantar o mal
Do carnaval de Recife
Das feiras de Maracaípe
Pros versos de quem faz o rap
Cordel do fogo encantado
Suor e sangue na batida do sertão
Maracatu sagrado
Pandeiro, atabaque e violão
Pensador que com a lua canta
Que o fruto da vida planta
E ilumina minha consciência.
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