sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ao acaso






Um homem e a sua cicatriz,
Marcada a ferro quente pela vida,
Uma mulher e seu amargo sorriso,
Resultado de uma relação partida.

Ele, triste por fora e feliz por dentro,
Escondido atrás da cortina do preconceito,
Ela, feliz por fora e triste por dentro,
Infeliz e arrependida após ter dito: aceito.

Duas almas tristes e sozinhas,
Que o destino fez questão de aproximar,
Num ônibus rumo ao Grajaú,
Longe das bênçãos de Iemanjá.

De lá pra cá, uma hora e meia,
Ele transforma os traumas em origami.
De cá pra lá, duas horas,
Ela prepara o cabelo e põe seu fone.

O silêncio dele diz muitas coisas,
E transparece luz num cisne de papel.
O silêncio dela muda de tom,
Ao ver naquele objeto a cor do céu.

A porta abre, a catraca gira,
Os olhares dançam,
O ônibus enche e esvazia,
Os sinais não disfarçam.


Amanhã talvez se encontrem de novo.


Demagogia








Métrica cética, meu ganha pão,
Auterosa ética, minha redenção.

Platônica linguagem puxa saquista,

Falsidade sinceramente altruísta.

Alter ego mascarado em eufemismo,
Medíocre excesso de preciosismo.

Sincretismo execrado com hipocrisia,
Antagonismo transformado em liturgia.

Demagogia.







 


O Fita



Quem entra sai,
Quem mente trai,
Quem sente cai,
E em frente vai.

Quem volta vem,
Quem busca tem,
Quem manda bem,
É de zero a cem.

Quem passou viu,
Quem chamou psiu,
Quem anda a mil,
Se apavora tiu.

Quem acelera vrum,
Quem breca pum,
Quem erra bum,
Era só mais um.

Quem fez assim,
Quem disse sim,
Quem estava afim,
Antecipou seu fim.

Sem novidade pra mim.



terça-feira, 17 de maio de 2011

Anti-repressão.




Siga com seus bons costumes,
Que eu fico com a minha falta de educação.

Siga com o que você acha certo,
Que eu continuo fazendo tudo errado.

Siga com suas boas impressões,
Que eu continuo rasgando minhas roupas.

Siga o seu rumo,
Mas evite atravessar o meu caminho.

Deixe-me seguir sozinho.

Prisão psicológica.




Filhos esquizofrênicos jogados ao relento,
Mães abandonadas esquecidas pelo tempo,
Mentes que deixaram de existir,
Por não terem mais motivos para sorrir.
Uma medicina que não honra seu diploma,
Mantém seres humanos num eterno coma.
Entre paredes sujas e grades enferrujadas.
Onde até pombas ficariam desnorteadas.
Saúde pública no Brasil é desrespeito.
Desorganização baseada no pré-conceito.
Que esconde o que os olhos não querem ver.
Onde só o que é bonito tem que aparecer.
Para um falso democrata se reeleger.
Perdi minha percepção do que é poder.

No vazio.




Não sento, não leio,
Não vejo, não ouço,
Não penso, não olho,
Não finjo, não faço,
Não penso ou escrevo,
Não como, não bebo,
Não faço mais nada,
Preciso de tempo.
Lamento.

Relações




Olhos e olhares,
Pessoas e lugares,
Laços e discórdias,
Contos e paródias,
Sofás e colchões,
Ações e reações,
Relações.