sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Visão do intocável



Uma folha que toca o asfalto,
O pássaro que voa alto,
Instrumento que toca os sentidos,
Que fazem do ar objeto,
Do teto que toca a pilastra,
A lente que enxerga mais perto,
O homem que olha no mapa,
A lua que cobre o planeta,
O dom que fôra herdado,
O dado que ganha a jogada,
A fada que vara suas noites,
Assoites de vida sem luz.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ritual matinal


Dia cinza, garoa leve,
Um carro vira o quarteirão.
Café com leite, pão na chapa,
O camarada me serve.
Vejo pessoas, traço históricos
Que desvendo através do olhar.
Coisas boas e ruins,
É tudo assim...
Assisto às notícias
Do dia anterior,
Cansado de terror,
E da queda do dólar.
O planeta está em crise.
O fim da novela terá reprise?
Quem ganhou o jogo de ontem?
Saberei antes que me contem.
Pego um jornal no farol,
Sobre ciência moderna,
E aprendo mais um pouco.
Sinto minha cabeça crescer,
Mas sei que irei esquecer.
São muitas informações,
Seres humanos e suas razões.
Opiniões são só opiniões.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Intervenção urbana



Intervenção urbana,
Arte do abandono.
Tomando de assalto,
Alvos esquecidos.
Tornando lixões,
Cenários de destruição,
Janelas quebradas,
Em telas de pinturas.
Muros caíram,
Comércios caíram,
Restou a arte.
Porque não fazê-lo?
Transformar o feio,
Em ilustrativo.
Espontâneo e provocativo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Um domingo de tensão





Domingo 8:30, desperto com algo incomum,
Ouço voz de pessoas e o barulho dos motores,
Policiais chegam, curiosos observam de longe.
Era uma história de amor não correspondido,
Que virou manchete de crime num jornal.
Ás 6:30, o meliante se levanta, pega sua jaqueta,
Coloca no bolso a faca com que cortava cana.
Suas olheiras indicavam uma noite mal dormida,
De alguém que estava infeliz com a vida.
7:00 pega o ônibus rumo ao seu destino final,
Bairro do Brooklin, rua Princesa Isabel,
O local: uma loja de calcinhas,
A vítima: sua amada.
Que à dois dias lhe tirou o sossêgo,
Ao dizer que arranjou um novo emprego,
E queria mudar de vida, sair da quebrada,
Viver sozinha, sem seu amado,
Que trocou o caminho certo pelo errado.
Ela queria uma vida honesta, mais cuidado.
7:30 ele desceu do ônibus, subiu a rua,
Sem olhar para os lados, empunhou a faca.
Entrou na loja, em segundos tentou argumentar,
Desesperado, começava a se exaltar,
Com os olhos vidrados, na tensão,
Abraçou sua amada, com uma faca na mão,
E mandou todos saírem.
8:30 acordei, todos já estavam lá,
Presenciei sem saber o motivo,
O porquê da confusão.
Passaram uma, duas, três horas,
E o homem ainda estava lá,
Foi quando ouvi um tiro,
E vi um corpo estirado no chão,
Fazendo daquele domingo, um dia de tensão.
Ele saiu com a moça, prometeu se entregar,
Não ouviu a bala o alvejar,
Alí mesmo caído no chão,
Conseguiu estender a mão,
Como se estivesse pedindo perdão.
E ela caiu de joelhos.
Poderia ser uma cena de filme,
Mas era cena real.
Poderia ser uma cena de amor,
Simulando que, pois mais louco que ele fôsse,
Ela ainda o tinha no coração,
Ou quem sabe o choro,
Que indicava liberdade, mesmo com a solidão.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sapiens

Habilidade caçadora,
Capacidade predatória,
Coordenação motora,
Imunidade respiratória,
Circulação sanguínea,
Resistência cardio vascular,
Carne sem taênia,
Educação alimentar,
Corpo em falência,
Displiscência elementar.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Longa caminhada

As luzes da cidade refletem em meu rosto,
O ar seco entope minhas narinas,
Mas eu sigo caminhando.
Os carros param, motoristas gritam,
Outro sinal se fecha,
E sigo caminhando.
Um muro grafitado, uma foto,
Escondo a câmera,
E sigo caminhando.
Menores cheiram cola, dão risadas,
Rebolam no farol,
Desacredito,
Mas sigo caminhando.
As ruas fedem animais mortos,
Fica escuro,
Não tenho medo, estou caminhando.
Em uma hora vejo um mundo,
Não tão belo quanto a faixada do prédio,
Para mim é necessário,
Para seguir caminhando.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Rotina (a mesma de todo dia)

Mais um horário cravado na rotina,
Ponteiros irritantes se tornam minha sina,
Mais um dia estressante de trabalho,
Centenas de urubus montados em espantalhos.
Todo dia um homem me pergunta:
“Quer táxi meu senhor?”
Muito obrigado, mas três reais é o que sobrou,
Não paga meia entrada pra ver meu time fazer um gol.
Quem diz que gosta do craude se engana,
Passamos os dias esperando o fim de semana.
Chego no ponto de ônibus lotado,
O mesmo chega e não consigo voltar sentado.
Tem muita gente, não dá pra ver a janela,
Somente um sovaco que a camisa amarela.
Pode ser sufocante mas essa é minha vida,
Triste, alegre, bufante e corrida.
Os opostos se atraem e o ego se enflama,
Das conquistas e glórias no fim da semana.