quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Argumentar

Para o terço do provérbio
Verbo.

Para a lírica profana
Cana.

Para o texto ainda disperso
Verso

Para o discurso engravatado
Atestado

Para um oi no elevador
Tempo

Cada ser tem seu argumento.

Ser eu

Nunca fui o mais popular da escola,
E nem fiz questão de ser.
Nunca fui exemplo de bom filho,
E nem quero ser.
Nunca fui quem você quis que eu fosse,
E não quero ser.
Não quero ser quem eu não sou.
E se eu fosse tudo isso que citei.
Talvez não estivesse aqui.
Talvez não fosse eu.

domingo, 26 de julho de 2009

Carta Interplanetária


Ei você do outro universo!
Tu não sabes como anda a terra,
Anda meio mancando,
Tropeçando em guerra,
Com um pé no poder,
E o outro querendo andar,
Numa mão dinheiro,
Na outra bomba nuclear.
Insanidade moral,
Morte movida a ganância,
Caos total,
Violência gera violência.
Tem gente tirando vidas,
Pra poder se alimentar,
E pelo dinheiro do petróleo,
Sujam a água do mar.
Ei! Você do outro universo,
Se vier traga solução,
Paz, amor e Harmonia,
Que muito falta nesta nação.

Cordel

Contrariando o alto grau de analfabetismo,
No nordeste o cordel teve seu batismo.
Suas estórias nas feiras e praças,
Fazem a imaginação ganhar asas,
Sob a voz do cordelista,
De origem humilde, realista.
Mediador das classes populares,
Que com sua fé derruba pilares.
Com louvação e crítica,
Faz da poesia sua política,
Quando quem sofre resolve lutar,
E no seio da vida amamentar.

Do campo a cidade ganhou uma lição,
De bravura e valentia como os feitos de lampião.
São antropólogos e sociólogos,
Que nunca sequer entraram numa faculdade.
Através de repentes e monólogos,
Cantam nas ruas por necessidade,
As lembranças do seco sertão,
Onde um dia lhe faltou o pão,
E o vento lhe trouxe de lá,
Pra num poço de lama anda,
O povo aplaude Ceará.

O cordel assim se faz atemporal,
Do maculelê pra espantar o mal,
Do carnaval de Recife,
Das feiras de Maracaípe,
Pros versos de quem faz o rap.
Cordel do fogo encantado,
Suor e sangue na batida do sertão,
Maracatu sagrado,
Pandeiro, atabaque e violão.
Pensador que com a lua canta,
Que o fruto da vida planta,
E ilumina minha consciência.

Alma de ilusão


Ao corredor a longa estrada,
Ao estradeiro o caminhão,
Ao boêmio a madrugada,
Ao gótico a escuridão,
Ao mendigo a moradia,
Ao doente internação,
Ao cientista anomalia,
Em minha alma a ilusão.

domingo, 21 de junho de 2009

Sociedade Imaculada

Foda-se sociedade imaculada,
Seus dólares, suas empresas privadas.
Seus filhos de olhos azuis,
Suas piranhas siliconadas,
Seus sorrisos cínicos, sua falsidade.
Sua dupla personalidade.

Suas esposas de aluguel,
Sua cozinha contemporânea,
Seu heliponto, arranhacéu,
Sua roupa de grife,
Sua conta no exterior.

Sua responsabilidade social,
Sua falsa moral,
Sua hipocrisia, eresia,
Seu prazer que não sacia,
Sua CPI, seu arrependimento,
Esquecido com o tempo.

Sua sorte, sua morte,
Sua família em volta do caixão,
Seus herdeiros, patrimônios,
Cheirarão carreiras com seu cartão.

Moedas ao Buda,
Santa Cara de diamantes,
Oxalá de puro ouro,
Sua guia de brilhantes,
Apagam velas com seu sangue,
Dando esmola aos retirantes.

domingo, 5 de abril de 2009

Bota fé


A fé é parceira,
É mestre de cerimônia,
É ato de resistência,
É busca de referência,
É rito de união,
É mostra de redenção,
Encontro de divindades,
Alívio de necessidades,

Um toque de tambor,
No centro de candomblé.
O grito do pastor,
Na Praça da Sé.
A reza da mesquita,
O rito do Sunita.
A mesa branca espírita.

Todos somos santos.
E ainda em prantos,
Temos fé,
Nem que seja em nós mesmos.